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Uma história de amor, Neanderthals e DNA

  • pitadadeciencia
  • 1 de mar. de 2017
  • 2 min de leitura

Crédito da imagem: H. Neumann / Neanderthal Museum.

A evolução é mais intrincada do que muitos podem imaginar. É provável que a imagem mais corriqueira que venha à mente quando se pensa em evolução seja aquela clássica de uma linha que representa o ancestral que caminha gradualmente e vai se aperfeiçoando, “evoluindo”, até o seu clímax, representado pelo ser do ápice dessa reta. No caso da evolução dos primatas, muitas vezes representado pelo Homo sapiens, ou seja, nós.

Mas a evolução é um tanto mais complexa que isso. Ao invés de uma linha, talvez a metáfora mais adequada para representar a evolução seja a imagem de uma árvore antiga. Os seus ramos representariam todas as linhagens ancestrais, cada folha uma espécie atual, sendo todos os seus ramos ligados a um tronco único, que seria o ancestral comum de todas as espécies viventes.

Agora imagine se um ramo da árvore voltasse a se fundir a outro ramo. Assim seria formado um híbrido, resultado dessa fusão. Pense que esse ramo híbrido volte a se fundir novamente com outro ramo. Em biologia evolutiva, esse processo é chamado de introgressão: uma espécie A cruza com uma espécie B, formando um híbrido. Posteriormente, esse híbrido AB poderá se cruzar com a espécie A ou a B. Esse processo é bastante comum para as plantas, assim como não parece ser raro em animais. Inclusive para as espécies dos hominídeos.

O nosso primo hominídeo Neanderthal se extinguiu há aproximadamente 40 mil anos. Apesar de ter sido espécie distinta da nossa, sabe-se por meio de estudos genéticos que temos uma boa parcela de seu DNA, mesmo que em peças espalhadas por nosso genoma. E esse compartilhamento de material genético não aconteceu por acaso: na verdade, foi o resultado de muitos “casos” amorosos... Por meio de uma história de hibridação e introgressão, hoje o nosso genoma compartilha 2% ou mais de DNA de nossos primos Neanderthals.

Em estudo publicado em 23 de fevereiro desse ano na conceituada revista Cell, McCoy e pesquisadores colaboradores da Universidade de Washington verificaram o efeito das sequências de DNA Neanderthal no nosso genoma. Com a avaliação da expressão de genes humanos, foi avaliada a atividade das sequências de DNA provindas de Neanderthal em comparação às sequências do humano moderno, tudo em nosso genoma.

Os resultados mostraram que as sequências de DNA Neanderthal não são relíquias silenciosas como até se poderia pensar. Pelo contrário, as sequências Neanderthals podem interferir em maior ou menor grau na expressão de nossos genes, podendo contribuir com a nossa diversidade humana. Foi observado que a atividade dos genes de nossos primos ocorre em graus diferentes quando comparados tecidos e órgãos distintos.

Mas o fato que é surpreendente, porém não inédito, é que parte do DNA de nossos primos está ativo em nosso genoma. Sem qualquer exagero, poderíamos afirmar que somos um pouco Neanderthals.

Fonte: McCoy et al., 2017, Cell 168, 916–927.

 
 
 

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