Nem tudo que é verde é planta: os curiosos animais fotossintetizantes
- pitadadeciencia
- 1 de nov. de 2015
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A ciência da classificação dos organismos vivos é chamada de taxonomia. Essa ciência é provavelmente tão antiga quanto o homem (apesar de esse termo ter surgido muito depois) que desde os primórdios se utilizou de plantas e animais para o suprimento de suas necessidades mais básicas. Saber diferenciar e reconhecer uma planta ou animal venenoso poderia significar a sua própria vida.
Essa ciência avançou tão quanto progrediu o conhecimento sobre as espécies de animais, plantas, fungos e demais organismos microscópicos, como as bactérias. E nas últimas décadas uma personagem vem tomando cada vez mais espaço nesse cenário, a molécula do DNA. Não apenas por ser a responsável pelo código genético, mas também pela sua própria estrutura molecular: cada fita de DNA é como um colar de pérolas, na qual cada conta pode ser uma das quatro bases - A, adenina, C, citosina, G, guanina ou T, timina. Essa característica do DNA, de certa forma simples, permite que seres vivos extremamente distantes do ponto de vista evolutivo, como bactérias e vertebrados, sejam comparados com a observação de seus genes, lado a lado, e suas respectivas bases (A, C, G ou T).
A taxonomia assim evoluiu, desde a sua origem como ciência formal, tendo sido Carl von Linné (Carlos Lineu, como conhecido em português) um dos seus principais expoentes. Como herança da taxonomia lineniana, classificamos todos os organismos vivos como quem coleciona selos ou figurinhas, sendo os mesmos agrupados de acordo com critérios preestabelecidos. Assim, todos os animais que possuem penas são classificados dentro da “gaveta” conhecida como aves; todas as aves, junto dos demais animais que possuem esqueleto, por sua vez são colocados na “gaveta” dos vertebrados e, por conseguinte, todos os demais animais, como as águas-vivas, estrelas-do-mar, insetos, crustáceos, etc. são colocados numa “gaveta” ainda maior chamada de animais.
Se por um lado o raciocínio lineano torna a classificação de todos os seres vivos praticável, até mesmo simples, ainda existem seres que literalmente são “a mosca da sopa”, os quais causam embaraço nos sistemas de classificação mais modernos. E apenas com o conhecimento do DNA certas charadas puderam ser vislumbradas.
Tradicionalmente as plantas foram diferenciadas dos animais, uma vez que as primeiras são seres autótrofos, aqueles que produzem seu próprio alimento, enquanto que os animais são heterótrofos, ou seja, aqueles que dependem de alimentos obtidos do ambiente que os cerca. As plantas são capazes de realizar a fotossíntese, processo que utiliza basicamente a luz solar e o gás carbônico atmosférico, sendo que os animais e fungos, que são seres heterótrofos, retiram seu alimento do meio onde vivem, seja ingerindo plantas, outros animais ou mesmo partículas. Entretanto alguns seres ignoram esse critério de classificação, que constitui um paradigma bastante antigo, que apenas recentemente foi transgredido.
Há pelo menos vinte anos são conhecidos organismos, principalmente micro-organismos, geralmente aquáticos, que se alimentam de algas e apresentam um comportamento no mínimo inusitado. Após se alimentarem das algas, essas não apenas servem de alimento como também têm seus cloroplastos, organelas celulares responsáveis pela fotossíntese, sequestrados pelas células daquele que se alimentou. E, fantasticamente, esses cloroplastos, agora chamados de cleptocloroplastos (do grego kléptēs=roubo), se mantêm ativos realizando a fotossíntese até mesmo por meses. Talvez o caso mais conhecido seja o da Elysia chlorotica, uma lesma-marinha que ocorre na costa leste da América do Norte. Após essa lesma comer as algas, as células vegetais são digeridas, porém os cloroplastos, agora chamados cleptocloroplastos, são inseridos no interior das células da lesma. E agora esse animal passa a fazer fotossíntese! Sabe-se que a fotossíntese apenas acontece pela interação de proteínas produzidas não somente pelo cloroplasto, mas também pelo núcleo da célula. Assim, de alguma forma ocorre uma intrínseca comunicação entre as proteínas nucleares da lesma e as proteínas do cloroplasto, cedido pela alga, para que ocorra normalmente.
Esse maravilhoso exemplo serve para nos lembrar que as classificações são meros produtos humanos. Necessários para podermos estudar os organismos e seus processos, mas como todo produto humano, com falhas e lacunas. E que ainda necessitamos de muitos estudos para compreendermos as relações entre os seres viventes.
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