O homem-leão de Stadel: quando o homem se tornou um artista – e pensador
- pitadadeciencia
- 4 de jul. de 2016
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O ano de 1939, além de marcar início da Segunda Grande Guerra e ter sido o ano posterior ao descobrimento da fissão nuclear do urânio pelos físicos alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann, foi o palco de uma das maiores descobertas da humanidade.
Na caverna de Stadel, na montanha de Hohlenstein localizada no sudoeste da Alemanha, um artefato de aproximadamente 29 cm esculpidos em marfim de mamute, com porções bastante fragmentadas, chamou a atenção da comunidade científica, sendo um dos elementos mais importantes que marcam a chamada Revolução Cognitiva.
Há 70 mil anos os Homo sapiens deixaram pela segunda vez a África e começaram a fazer coisas bastante especiais, o que os tornou diferentes das demais espécies humanas. Dessa vez, expulsaram todos os nossos primos neandertais e as demais espécies humanas do Oriente Médio e também de todos os lugares que chegaram. Em um período muito curto, chegaram à Europa, à Ásia e atravessaram o oceano em conquista da Austrália que, há cerca de 45 mil anos, era um continente ainda desprovido de humanos. Essa época foi o palco de inventos extremamente importantes, desde barcos a flechas até elementos figurativos que são os primeiros registros de arte, assim como de religião e comércio.

A descoberta da caverna de Staden fora uma estatueta em forma humana, mas incrivelmente com cabeça de leão. Fora chamada de “homem-leão”, ou “mulher-leoa” (há ainda dúvidas sobre qual gênero foi representado), que por datação por radiocarbono teria sido esculpido por seu artista há 32 ou 40 mil anos. Esse artefato é um grande marco para a história da humanidade, já que prova o início do figurativismo. O Homo sapiens, a partir desse momento, não usava mais sua linguagem apenas indicar um felino faminto à espreita, ou um arbusto cheio de frutos maduros depois da lagoa, mas sim também para comunicar ideias abstratas como misticismo, lendas, arte, assim como ideias mais intrincadas acerca das instituições e corporações.
É possível que o progresso da humanidade tenha sido resultante principalmente das intrincadas relações que temos com as instituições, como o exército, o judiciário, as religiões e certamente a arte. Difícil saber o que levou a humanidade a esse salto. Mutações genéticas devem ter sido as alavancas para a formação de conexões neurais responsáveis pelo avanço cognitivo, refletido na nossa linguagem. E essa habilidade permitiu a colaboração entre milhares de humanos, mesmo que desconhecidos. Quando um automóvel é fabricado, o processo envolve o conhecimento e a colaboração de milhares de humanos, de diversos pontos do planeta, mesmo que nunca tenham se encontrado. E essa colaboração extremamente flexível é que talvez nos diferencie como Homo sapiens dos demais animais.
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